Um homem nunca sabe do que é capaz até que o tenta fazer.
- Charles Dickens
O frenesi do fim de ano, com suas luzes piscando e confraternizações intermináveis, tem o poder de nos inspirar – mas também nos desafia a encontrar tempo para o que realmente importa. Mesmo em meio à corrida contra o relógio, conseguimos uma pausa para celebrar ao lado dos alados e aladas: nossa festa temática hippie, realizada na Ilha do Mel. Um ode à leveza, à liberdade e à contracultura inspirada em ícones como Rita Lee, Beatles, Janis Joplin, Raul Seixas e até Henry David Thoreau.
E, nessa onda de inspiração, encontramos paralelos com a obra de um escritor atemporal: Charles Dickens.
"Que contava uma história que era mais ou menos assim..."
Deixe-me apresentar Charles Dickens, um otimista responsável por ter resgatado o Natal para todo o sempre através das palavras. É ele o responsável pelo espírito natalino que atualmente circula pelo mundo, com os valores de generosidade, partilha, espera e transformações, sem falar no Peru de Natal, troca de presentes e os trajes Natalinos. Ele era um mestre das palavras. Em 1850, deu vida ao personagem David Copperfield – o original. Décadas depois, o nome desse personagem produziu um mágico americano a adotá-lo como seu próprio. Enquanto o ilusionista Copperfield, em 1970, fazia a Estátua da Liberdade desaparecer e levitava sobre o Grand Canyon, Dickens nos revelava uma magia mais profunda e desafiadora do que levitar ou voar: a de navegar com sabedoria pelas complexidades da vida.
Dickens e Copperfield, cada um à sua maneira, nos revelaram a magia sob diferentes formas. Dickens, com sua pena afiada, explorou temas como afeto, desigualdades e a importância das conexões humanas, despertando em nós a esperança de um futuro melhor ao pensarmos nos valores que ele "embrulhou" no Natal. Copperfield, por sua vez, encantou com truques e ilusões que nos transportaram para mundos onde o impossível se tornaria realidade. Ambos, absolutamente otimistas, convenhamos, nos mostram que a verdadeira magia reside na capacidade humana de transformar o ordinário em extraordinário, na capacidade de superar desafios (ler histórias de ambos), construir um mundo mais justo e humano em busca de acabar com um cenário tão desigual.
Ser otimista é um ato revolucionário.
E nós, movidos pelas emoções e impulsionados pelos desafios, buscamos voar além das aparências. Reconhecendo a magia que reside em cada gesto de afeto, cada esforço para sermos mais leves, cada ato de superação e cada escolha consciente. Resgatamos as ruas de uma Londres de 1843 para trazer a reflexão de Charles Dickens em sua obra-prima Um Conto de Natal, que tantas adaptações cinematográficas recebeu ao longo dos anos.
Não se trata apenas de um conto de Natal, de fantasmas ou do idoso sovina (Scrooge) que gosta mais de moedas do que de abraços. É sobre a mágica de acordar para a vida. É sobre o fato de que nunca é tarde para mudar. É sobre a capacidade humana de se renovar e de encontrar a felicidade mesmo após uma vida inteira de amargura e uma visão tão emburrada e desencantada do mundo. Scrooge, o velho avarento, se transforma e inspira a humanidade a fazer o mesmo para tornarmos os dias mais leve, sensíveis e empáticos uns com os os outros.
A mensagem continuará relevante em qualquer século. Na nossa opinião, a mágica atual está em perceber os 'pegues e pagues' invisíveis do mundo moderno: trocamos tempo por dinheiro, alma por likes e amor por coisas efêmeras. É como se vendêssemos pedaços de nós mesmos em um mercado de ilusões instagramáveis, onde tantos querem influenciar e inspirar, e poucos querem refletir ou provocar a reflexão de forma mais generosa e humana. Sobra gente para "birutar" (ato de orientar o voo de outros) e falta gente para impulsionar o raciocínio. E, nesse processo, corremos o risco de nos perder, de entrar no rotor, de viver apenas um 'sonho que se sonha só', como diria Raul Seixas, e Charles Dicken nos lembraria que o sonho de Scrooge era acordar de uma vida que corria rumo à solidão. Ele não precisava de mais ouro; precisava de conexão, com as pessoas e com ele mesmo, precisava de um novo olhar, uma nova forma de ver o mundo.
Ou, como mencionamos durante a festa de fim de ano:
Não basta estar ocupado; a pergunta é: com o que estamos ocupados?
Se Dickens estivesse vivo hoje, provavelmente ficaria chocado com o truque mais moderno de todos: o excesso de estímulos. Enquanto Scrooge ignorava os necessitados à sua porta, hoje ignoramos até a nós mesmos, soterrados em notificações, publicidade e “urgências” que nem sabemos se são nossas. O truque do mundo moderno não é desaparecer com a Estátua da Liberdade, mas desaparecer com a nossa atenção naquilo que realmente importa.
Veja só: em 1843, Dickens falava de trabalhadores explorados, de crianças sem escola, de um mundo em que muitos viviam nas sombras de poucos. Agora, quase 200 anos depois, os problemas permanecem. A diferença? Hoje temos a tela do celular que em questão de milésimos de segundos é capaz de nos distrair de tudo. Estamos tão distraídos que nem percebemos quando perdemos a conexão com o que importa, e se o Wi-Fi é fraco, que Deus acuda a brava gente brasileira. Nossa capacidade de concentração está tão reduzida que vídeos, livros, músicas e podcasts estão cada vez menores. Alguns especialistas sugerem que iremos chegar a capacidade de apenas 3 segundos. E, assim, de 3 em 3 segundos se esvai o pensamento crítico, a atenção, a concentração, o foco e o olhar sobre o que esta ao nosso redor. O voo da vida fica "perigoso" e qualquer um pode se transformar no velho Scrogge correndo atrás sabe se lá do que.
E, no fundo, é por isso que Um Conto de Natal continua relevante: ele nos lembra que ainda existe espaço para se conectar com o mundo e com nós mesmos.
Rita Lee, se cantasse sobre o Velho Scrogge, talvez dissesse algo como:
"A vida é um palco cheio de fantasmas. Uns do passado, outros do presente, e aquele do futuro que chega sem avisar, cobrando os pecados de quem andou distraído demais para ver os rotores e descendentes do seu próprio voo."
E Dickens assinaria embaixo, com a potente observação: Nunca é tarde para um novo começo. Copperfield, o mágico, diria que a magia não está em desaparecer com monumentos, mas em reaparecer com um novo olhar. Que o truque não é transformar pedra em ouro ou ter uma conta bancária transbordando milhões, mas transformar indiferença em afeto.
Então, neste Natal, entre panetones, luzes piscantes, vídeos de “dicas de decoração de mesa de Natal” no YouTube, listas de metas para 2025 e TikTok, talvez seja hora de realizar a mágica de Charles Dicken: adotar uma perspectiva humanista, com a ênfase na transformação pessoal, na caridade e na alegria compartilhada.
Porque, afinal, o presente – esse mesmo que Dickens tanto exaltou em Um Conto de Natal – não é só uma data no calendário, nem uma caixa embrulhada em papel brilhante. É o momento de olhar para os outros, e especialmente para nós mesmos, com mais amor. O Fantasma do Natal Passado nos lembra da importância da humildade, de reconhecer nossas raízes e aprender com as experiências. O Fantasma do Natal Presente nos convida à generosidade e ao afeto, a compartilhar o que temos e celebrar a vida com aqueles que amamos. E o Fantasma do Natal Futuro nos alerta sobre a necessidade de buscar um mundo mais humano, onde a compaixão, empatia e coragem prevaleçam.
Como diria Rita Lee, talvez a verdadeira revolução seja desacelerar, perceber o truque e enxergar a vida com a simplicidade que as vitrines tentam ofuscar. Neste Natal, que a obra de Dickens nos inspire a escrever novas histórias, a buscar conexões verdadeiras, a encontrar significado nas pequenas (e imensas) coisas da vida, resgatar e construir o afeto, a simplicidade, a generosidade e a humanidade.
Com essas imagens dos sorrisos e abraços da nossa Festa de Fim de Ano, escrevemos que desejamos a todos um Natal e um Ano Novo repleto de amor, paz, união, saúde, prosperidade, muitas cores e magia. Que 2025 seja um belíssimo ano, com bons, longos, seguros e divertidos voos, em terra e em céu.
Obs: Envie sua foto na festa para que possamos incluí-la neste post.😍😎
Somos profundamente gratos a todos que estiveram na Festa Hippie Vento Norte Paraglider de fim de ano. Um agradecimento especial ao amigo Herbert Cassoli, que foi fundamental na organização do evento, ao Restaurante Cataia's pelo jantar excepcional, e aos talentosos amigos Jesus Ortega, Eduardo Bragante, Luiz Andrade, Felipe Ortega e Flaviana, que encheram a noite de música e alegria. Foi mágico e inesquecível. Por mais eventos como esse!